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Mostrando postagens de outubro, 2018

Contos Insanos #4

    Hoje não quero falar de amor. Não quero me desgastar com minha própria sensibilidade. Não saí de casa para isso. Não vim falar de você e de como me deixa. Deixa pra depois se eu já deixei do jeito que você gosta. Tá tocando um jazz no fundo, um que a gente combinou de ouvir mas nunca ouviu. As luzes já estão desligadas e existe uma fresta de luz que desenha bem as curvas do teu corpo. Ouço com clareza o peso das tuas intenções no timbre da tua voz, que me brinca a mente como criança no natal, é fatal. Me desnorteia. Não posso me perder. Paro. Penso. Volto. Acendo o incenso e o baseado. A fumaça nos envolve sem toque, numa neblina tão densa quanto os teus olhos castanhos. Te vejo do outro lado da cama. Deitada. Pensando. Esperando. A mão ocupada com uma taça do meu vinho favorito. É sempre bom. Sou sempre boa. Sempre agrado. O teu silêncio me crava como lâminas. Não há tensão. Eu nada enxergo, tudo sinto. Tua pele coberta com o calor da tuas certezas. Desnuda. Cintila.  Quase grita.